sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A Missão dum Movimento Laical.

Deu no CCFMC Boletín Abril/Maio 2008:
Em Fevereiro de 1208, Francisco ouviu o envio missionário de Jesus “Ide e anunciai: O Reino dos Céus está próximo. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, dai também de graça! Não leveis nos cintos moedas de ouro, de prata ou de cobre” (Mt. 10, 7-9). Cheio de entusiasmo e muito emocionado exclama: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração!” (1Cel 22,3). É o início de um movimento novo na Igreja.
E é o começo de uma nova missão: O pobre pregador ambulante Jesus de Nazaré torna-se vivo e palpável de novo. Ele, que veio para anunciar a Boa Nova aos pobres, torna-se, para Francisco, conteúdo e forma da sua missão. Quer seguir as pegadas Dele. Os cansados de carregar o peso do seu fardo, excluídos das magníficas catedrais, dos mosteiros poderosos e das cidades ricas da Idade Média, devem experimentar, outra vez, a predileção de Deus pelos pobres. Por isso, escolhe a pobreza, pois, somente quem é pobre pode sentir como se sentem aqueles que estão sempre por baixo, vivendo das migalhas dos ricos. E só quem não está preso a determinado lugar pode chegar onde as pessoas estão presas à sua miséria. Sua missão e a de seus irmãos será anunciar-lhes a mensagem libertadora do Evangelho. Quando Francisco mal tinha sete irmãos, mandou-os dois a dois aos quatro pontos cardeais para levarem esta mensagem consoladora à humanidade. Não só com palavras mas, como fez Jesus, com palavras e ações.
Na primavera do ano de 1209, passou-se um ano desde a experiência de Porciúncula. Então, Francisco pensou que seria o tempo próprio para apresentar o seu movimento à Igreja: “Vejo, irmãos, que o Senhor quer, misericordiosamente aumentar a nossa comunidade. Indo, portanto, à nossa Mãe, a santa Igreja romana, notifiquemos ao sumo pontífice, o que o Senhor começou fazer por meio de nós, para que prossigamos o que começamos em conformidade com a vontade e preceito dele.” (LTC 46, 2). O Papa deveria ver e experimentar o que o Senhor começou através deles. Também aqui, esta certeza interior: “O Senhor deu-me”. Os irmãos que se juntaram a Francisco viviam com os pobres e excluídos. A mensagem do pobre Jesus de Nazaré fez-se sentir e foi vivida entre eles mais uma vez. Isto deveria ser anunciado à Igreja. Então, os doze irmãos encaminharam-se para Roma nos seus hábitos ásperos para se apresentarem ao Papa. Como o bispo de Assis se encontrava precisamente nesta época em Roma, louvando os irmãos com entusiasmo, o Papa não teve outro remédio senão confirmar o que Deus tinha começado mediante Francisco. “O pontífice, porém, como era dotado de especial discrição, assentiu, no devido modo, aos desejos do santo e, exortando-o e aos irmãos sobre muitas coisas, abençoou-os dizendo-lhes: “Ide com o Senhor, irmãos, e, como Ele se dignar inspirar-vos, pregai a todos a penitência” (LTC 49,2).
O paralelo é visível. Jesus congrega doze discípulos escolhidos e confia neles a continuação da sua missão. Eram pesca-dores, artesãos, pequenos funcionários, quer dizer, pessoas que não pertenciam às elites teológicas do seu povo, mas que estavam abertas ao espírito de Deus que lhes foi anunciado por Jesus. Os primeiros companheiros de Francisco também foram gente do povo. Camponeses e artesãos pessoas simples e pessoas finas, às quais Francisco pode transmitir a sua visão de um outro mundo mais pacífico. Assim surgiu um movimento livre de todos os desejos de posse e domínio, um movimento capaz de transmitir assim, de novo, o Evangelho como mensagem luminosa da libertação e da esperança. O Papa Inocêncio III, o papa mais poderoso da Idade Média, reconheceu isto e deu a este movimento laical a autorização de anunciar a Boa Nova. Entendeu os sinais do tempo.
Se quisermos entender e celebrar corretamente o carisma franciscano 800 anos depois deste evento, é necessário, sendo pessoas franciscanas, que tenhamos esta certeza interior que Deus nos deu; e temos de reivindicar na Igreja outra vez o fato de os leigos terem um direito inalienável a anunciar porque Deus os chamou e os enviou.

Andréas Müller OFM Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2009/2009_04_News.shtm

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Amor Esponsal de Santa Clara de Assis.

 
Por Frei João Mannes, OFM
No dia 11 de agosto celebrou-se a solenidade de Santa Clara de Assis. Por isso, nesta reflexão colocamos em evidência um dos aspectos mais relevantes de sua espiritualidade, isto é, o seu relacionamento esponsal com Jesus Cristo, que na cruz entregou-se a Si mesmo, voluntária e totalmente, por amor à humanidade.
Santa Clara fez-se esposa do Senhor dos senhores porque se sentiu profundamente afeiçoada pelo Seu irrestrito amor. Por divina inspiração, Clara renunciou a todos os outros amores possíveis para poder entregar-se inteiramente ao único esposo Jesus Cristo. Em outras palavras, com todas as fibras do seu coração, procurou evitar que “toda soberba, vanglória, inveja, avareza, cuidado e solicitude deste mundo”(RSC 10,6) desviassem o seu coração do único necessário: Jesus Cristo. Assim, conservando o seu corpo casto e virginal, sem nada de próprio, acolhe Jesus no claustro de seu seio. Por conseguinte, Clara revive espiritualmente o mistério da mãe do Senhor, que humildemente dispôs-se à ação transformadora do Espírito Santo e tornou-se efetivamente a mãe do Filho do altíssimo Pai.
Clara retrai-se do corre-corre da “cidade” e recolhe-se no santuário de sua alma para ali, na mais pessoal e individual solidão, encontrar-se a sós com o Amado. No tálamo do seu coração, no silêncio dos sentidos e do intelecto deixa-se enlevar tanto pelo amor do Amado, ou melhor, do Amante, que todo o seu afeto, amor, carinho, atenção e serviço às suas Irmãs, aos pobres e doentes são manifestações concretas de sua uniformidade com o Espírito de Cristo. O Ministro geral da OFM, Frei José Rodríguez Carballo, escreveu na Carta para a solenidade de Santa Clara – 2008, que “é vivendo no amor à Palavra que se chega a ser morada da Trindade (cf. Jo 14,23) e se adquire aquele olhar de fé que, graças a ele, nos permite vislumbrar o rosto do Amado no rosto dos irmãos e irmãs”. Enfim, pela caridade igualamo-nos a Deus, que é Amor, de acordo com Santo Agostinho: “O que o homem ama, isto o homem é”.
A Irmã Pobre, à medida que adentra sua mais interior profundidade, que é a morada de Deus, reencontra-se a si mesma e a todas as criaturas, que antes abandonara por amor a Deus. Assim, a clausura material de Clara e de suas Irmãs, também chamadas de Damas pobres, não é fuga nem rejeição do mundo, mas é, antes, expressão de um silêncio e recolhimento interior que possibilita a contemplação de nós mesmos e de todos os seres do universo, à luz da Palavra criadora que jorra do silêncio eterno de Deus. Conforme exorta-nos Francisco, “se a Alma não consegue descobrir o silêncio e o recolhimento interior da sua cela (que é o irmão Corpo), de pouco aproveita ao religioso a outra cela, construída pela mão do homem”(LP 80).
Todavia, Jesus Cristo não é somente o esposo de Clara, mas de todas as Damas pobres. Por isso, Clara louva imensamente a decisão de Santa Inês de Praga que renunciara a todas as benesses de um casamento imperial para unir-se em matrimônio com o Cristo pobre. Exorta-a, porém, de jamais “perder de vista o ponto de partida” de sua história de amor. Na verdade, foi o “espírito do Senhor” que a priori “seqüestrou o seu coração” e acendeu nela um ardentíssimo desejo de unir-se a Jesus Cristo como sua digníssima esposa. Por essa razão, Clara exorta-a a olhar, a considerar e a contemplar sempre o Filho de Deus encarnado, que fixou terna e afetuosamente sobre ela o Seu olhar e suscitou nela uma resposta, consciente e livre, de adesão total a Ele. Afinal, é constante o risco de sermos seduzidos pelos apelos imediatos do ter, do poder e do prazer, que obscurecem o ponto de partida. Mas Inês deu, sim, até o fim, uma resposta de amor Àquele que a amou primeiro, “até o extremo”.
Porém, ter a Jesus Cristo como único esposo não é um privilégio exclusivo das Damas pobres. Lê-se na Carta aos fiéis (segunda recensão), de Francisco, que “são esposos, irmãos e mães (cf. Mt 12, 50) de Nosso Senhor Jesus Cristo” (2Fi 50) aqueles e aquelas que se unem a Ele pelo Espírito Santo e fazem até o fim as obras do Senhor. Assim sendo, esposar-se com Jesus Cristo é comprometer-se com a obra de Sua vida.
E Clara, ao descobrir que Francisco amava e seguia de verdade o Filho de Deus, uniu-se voluntariamente a ele para viver conforme a sua palavra e exemplo. Assim, a Irmã Pobre, na sua fidelidade, garante a continuação do primitivo projeto de vida de Francisco. Em outras palavras, Francisco e Clara têm a mesma Regra e vida: “observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo” (RB 1,1; RSC 1,3).
Portanto, Clara e Francisco são duas versões distintas e complementares da mesma Regra e da mesma missão franciscana no mundo. Entre Clara e Francisco existem profundos laços de ternura e uma extraordinária transparência de intenções e convergência no amor de Deus (L. Boff). Clara e suas Irmãs, por divina inspiração, se fizeram filhas e servas do altíssimo e sumo Rei, o Pai celeste, e desposaram o Espírito Santo, escolhendo viver segundo a perfeição do santo Evangelho. Por isso, Francisco quer e promete, por si e por todos os seus irmãos na Ordem, ter sempre por elas um diligente cuidado e uma especial solicitude (cf. RSC 6, 3-4).
Enfim, como irmãos de Francisco, externamos toda a nossa gratidão a Deus pelo dom da vocação de Clara e de suas caríssimas Irmãs, que com solicitude cumprem o que prometeram ao Senhor. Que o Senhor esteja sempre conosco e que nós estejamos sempre com Ele. Amém.
Segue parte da Segunda Carta de Santa Clara a Santa Inês de Praga:
“Clara, serva inútil e indigna das pobres damas, saúda dona Inês, filha do Rei dos reis, serva do Senhor dos senhores (cf. Ap 19,16; 1Tm 6,15), esposa digníssima de Jesus Cristo e por isso rainha nobilíssima, augurando que viva sempre na mais alta pobreza.
Agradeço ao Doador da graça, do qual cremos que procedem toda dádiva boa e todo dom perfeito (Tg 1,17), pois adornou-a com tantos títulos de virtude e a fez brilhar em sinais de tanta perfeição, para que, feita imitadora atenta do Pai perfeito (cf. Mt 5,48), mereça ser tão perfeita que seus olhos não vejam em você nada de imperfeito (cf. Sl 138,16).
É essa perfeição que vai uni-la ao próprio Rei no tálamo celeste, onde se assenta glorioso sobre um trono estrelado. Desprezando o fausto de um reino da terra, dando pouco valor à proposta de um casamento imperial, você se fez seguidora da santíssima pobreza em espírito de grande humildade e do mais ardente amor, juntando-se aos passos daquele com quem mereceu unir-se em matrimônio.
Mas eu sei que você é rica de virtudes e vou ser breve para não a sobrecarregar de palavras supérfluas, mesmo que não lhe pareça demasiado nada que lhe possa dar alguma consolação. Mas, como uma só coisa é necessária (Lc 10,42), é só isso que eu confirmo, exortando-a por amor daquele a quem você se entregou como oferenda santa (cf. Rm 12,1) e agradável. Lembre-se da sua decisão como uma segunda Raquel: não perca de vista seu ponto de partida, conserve o que você tem, faça o que está fazendo e não o deixe (cf. Ct 3,4) mas, em rápida corrida, com passo ligeiro e pé seguro, de modo que seus passos nem recolham a poeira, confiante e alegre, avance com cuidado pelo caminho da bem-aventurança. Não confie em ninguém, não consinta com nada que queira afastá-la desse propósito, que seja tropeço no caminho (cf. Rm 14,13), para não cumprir seus votos ao Altíssimo (Sl 49,14) na perfeição em que o Espírito do Senhor a chamou. (…).
Veja como por você ele (o Cristo pobre) se fez desprezível e siga-o, sendo desprezível por ele neste mundo. Com o desejo de imitá-lo, mui nobre rainha, olhe, considere, contemple o seu esposo, o mais belo entre os filhos dos homens (Sl 44,3), feito por sua salvação o mais vil de todos, desprezado, ferido e tão flagelado em todo o corpo, morrendo no meio das angústias próprias da cruz.
Se você sofrer com ele, com ele vai reinar; se chorar com ele, com ele vai se alegrar; se morrer com ele (cf. 2Tm 2,11.12; Rm 8,17) na cruz da tribulação, vai ter com ele mansão celeste nos esplendores dos santos (Sl 109, 3). E seu nome, glorioso entre os homens, será inscrito no livro da vida (Fl 4,3; Ap 3,5)” (Fontes Franciscanas e Clarianas, Petrópolis: Vozes, 2004, p. 1705-1707).
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/mannes_180808

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Um Filme- um bom Filme


   São Francisco- Francesco
Sinopse: Pela primeira vez no Brasil, São Francisco é o filme mais completo sobre a vida e os feitos do Santo de Assis, um dos maiores nomes da Cristandade. Filmada nas locações históricas na Itália, essa superprodução acompanha a trajetória de São Francisco desde sua juventude até seus últimos dias como líder da Ordem Franciscana, mostrando inclusive sua amizade com Santa Clara. São Francisco é um retrato fascinante de um homem cujo legado inspira milhões de corações cristãos até os dias de hoje. Título Original: Francesco. Ano: 2002 -Elenco: Michele Soavi.

 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Santa Beatriz da Silva.

A família

“…educada num profundo espírito e virtudes cristãs.”
De nobilíssima família portuguesa, Beatriz da Silva e Menezes, nasceu na graciosa e ensolarada vila alentejana de Campo Maior, no ano de 1437. Filha de D. Rui Gomes da Silva, Alcaide Mor da já mencionada vila de Campo Maior e Ouguela e de Dona Isabel de Menezes, que era filha de D. Pedro de Menezes que foi Governador da Praça de Ceuta, nessa altura pertencente à coroa dos reis de Portugal. Os pais de Beatriz pertenciam à primeira nobreza e estavam ainda aparentados com a família real.
Tiveram 11 filhos, educados por franciscanos, que inculcaram no seu coração um profundo sentido cristão, ético e moral e uma especial amor à IMACULADA.
Campo Maior
Campo Maior
A Princesa Isabel de Portugal, filha de D. Duarte, contrai núpcias com D. João II de Castela, e leva a sua prima Beatriz como dama. Era Beatriz muito nova e bela e de alma transparente e cristalina. Os ciúmes da Rainha chegaram ao desejo de a fazer desaparecer. Mas os desígnios de Deus são outros, e como do mal pode obter um bem, enquanto esta só e cerrada num cofre esperando a morte, aparece-lhe a Virgem Imaculada, Rainha de Portugal, a anunciar-lhe que seria mãe de muitas filhas e que fundasse uma Ordem dedicada ao serviço e louvor do mistério da sua Conceição Imaculada.  Sai da Corte e nos Palácios de Galiana, em Toledo funda a sua Ordem há mais de 500 anos.
Santa Beatriz da Silva

BEATRIZ É UMA GLÓRIA PARA A IGREJA!