sábado, 23 de novembro de 2013

Uma visão franciscana da economia

Por Frei Celso Márcio Teixeira 


fonte: http://www.itf.org.br/uma-visao-franciscana-da-economia-2.html
À primeira vista, tendo-se presente que a pobreza se tornou ao
longo da história quase que uma carteira de identidade dos franciscanos, o título desta reflexão parece conter um paradoxo ou talvez causar a expectativa de uma visão radicalmente negativa da economia. Pode o franciscano pelo menos pensar em economia, já que o próprio Francisco proíbe severa e terminantemente que os frades recebam dinheiro, comparando-o a uma pedra ou ao pó que se calca com os pés (cf. RnB 8,4.6)(1)? Haveria algum espaço para se falar em economia, quando se defende a pobreza radical do nada possuir (cf. RB 6,1)? Embora as aparências possam sugerir uma irreconciliável contradição entre espiritualidade franciscana e economia, ousamos afirmar que o próprio Francisco de Assis nos deixou o que poderíamos chamar de “modelo econômico alternativo”. E os franciscanos, ao longo da história, não somente elaboraram um pensamento sobre a economia, mas propuseram novos modelos econômicos na tentativa de diminuir a distância existente entre ricos e pobres.
1. Conceito de economia no pensamento e na práxis de São Francisco
Evidentemente, não vamos encontrar nos escritos de Francisco nem no conjunto todo das Fontes Franciscanas um conceito definido de economia. Mas vamos descobri-lo nas entrelinhas do que está escrito e na práxis de Francisco e de seus companheiros.
É necessário, antes de tudo, não identificar economia com possuir, acumular bens (dinheiro, propriedades) e gerir capital. Pelo menos não é este o conceito que ele tem de economia. Mas, se lermos atentamente as fontes franciscanas, verificaremos que, para ele, a economia consiste em gerir as necessidades vitais dos irmãos (gerir a vida). De fato, a grande preocupação dele com relação aos frades é cuidar deles em suas necessidades vitais. Embora a proposta franciscana seja de uma vida sóbria – devemos estar contentes, quando temos com que nos cobrir e com que nos alimentar (cf. RnB 9,1b) – no entanto, a economia que deve reger a vida dos frades será pautada pelo cuidado dos irmãos em suas necessidades, um princípio explícito na Regra Bulada:
Os ministros e custódios exerçam diligente cuidado, através de amigos espirituais, para com as necessidades dos enfermos e para vestir os demais irmãos de acordo com os lugares, tempos e regiões frias, como virem que seja conveniente à necessidade; salvo sempre que, como foi dito, não recebam moedas ou dinheiro (RB 4,3-4).
O conceito que ele tem de economia, portanto, não se situa no nível do possuir, do acumular ou gerir bens, mas no nível do cuidar das necessidades vitais e de gerir a vida.
2. Modelo econômico alternativo
Partindo do conceito de economia como cuidado dos irmãos em suas necessidades vitais, nós nos perguntamos se, de fato, se criou um modelo econômico para fazer frente a essas necessidades. Nossa busca neste sentido aponta para uma resposta afirmativa. Alguns elementos são bastante evidentes, permitindo-nos concluir categoricamente que se criou realmente um modelo alternativo.
a) Um modelo baseado no trabalho
O trabalho como base da economia franciscana já estava explícito na Regra não Bulada:
E os irmãos que sabem trabalhar trabalhem e exerçam a mesma arte que conhecerem… Pois diz o profeta: “Comerás do trabalho de tuas mãos”… E pelo trabalho possam receber todas as coisas necessárias, exceto dinheiro (RnB 7,3.4.7).
Pode-se dizer que o trabalho constitui o primeiro artigo do estatuto da economia franciscana. O meio de suprir as necessidades vitais dos frades, portanto, não consiste em rendas fixas nem na acumulação e capitalização de bens, mas no trabalho.
Este artigo contém um parágrafo: “E, quando for necessário, vão pedir esmola como os outros pobres” (RnB 7,8). Este parágrafo, no entanto, não significa que o meio normal de suprir as necessidades seja a esmola, como posteriormente na história foi interpretado, especialmente quando foi concedido aos frades menores poderem viver das esmolas dos fiéis e quando eles ficaram conhecidos com outros grupos como mendicantes. O parágrafo não vem substituir o artigo, mas apenas acrescentar uma cláusula para um caso especial, como o próprio Francisco chega a precisar no Testamento: “E quando não nos for dado o salário, recorramos à mesa do Senhor, pedindo esmolas de porta em porta” (Test 20b.21a.22).
b) A socialização dos bens pela partilha
Outro elemento que, a nosso ver, constituía um artigo importante do modelo econômico de Francisco é a partilha dos bens adquiridos pelo trabalho. A Regra é inequivocamente clara: “Quanto ao salário do trabalho, recebam para si e para seus irmãos as coisas necessárias ao corpo, exceto moedas e dinheiro” (RB 5,4).
Os bens adquiridos pelo trabalho são sempre “as coisas necessárias”. E a repetida proibição de que se receba dinheiro mostra com muita evidência que o modelo econômico proposto como alternativo não se baseia no dinheiro. Este artigo, porém, evidencia que os bens adquiridos não pertencem nem são destinados unicamente a quem trabalhou, mas ao conjunto dos irmãos: “para si e para seus irmãos”.
Infelizmente, ao longo da história, as intermináveis discussões sobre a pobreza nunca deram valor a este elemento que, a nosso ver, mostra o verdadeiro significado da pobreza franciscana: a pobreza significa não apenas não acumular, mas antes de tudo partilhar o pouco que se tem ou se adquire (2). Tudo em vista do cuidado (bem comum) da fraternidade. Este cuidado, princípio fundamental de todo o estatuto, por sua vez, dá a cada frade a liberdade de manifestar ao outro suas necessidades: “E com confiança um manifeste ao outro a sua necessidade” (RB 6,9).
c) Além da lei do supérfluo
Chamamos aqui “lei do supérfluo” aquela frase incandescente de São Basílio Magno em uma de suas homilias:
Pertence ao faminto o pão que tu reténs. Ao que está nu pertence o manto que guardas. Ao descalço, o calçado que irá apodrecer em tua casa. É do necessitado o dinheiro que tens enterrado (3).
Resumindo numa máxima a exortação de São Basílio: o supérfluo pertence aos pobres.
Embora Francisco não tenha escrito sobre a partilha com os demais pobres, sua práxis é profusamente atestada pelos hagiógrafos. Ele queria que os frades partilhassem com os necessitados não apenas o que lhes era supérfluo, mas também o que estava destinado às suas próprias necessidades. Ao encontrar alguém mais necessitado do que ele, não tendo supérfluo, dava aquilo que lhe era absolutamente necessário. Dizia:
Recebemo-lo de empréstimo até acontecer que encontremos alguém mais pobre… Não quero ser ladrão; ser-nos-ia imputado como furto, se não o dermos ao mais necessitado (2Cel 87; CA 32).
Exemplos claros disso são as várias vezes em que ele deu seu próprio manto a algum pobre (cf. 2Cel 86; 87; 88; 92) ou, quando já não tinha o manto, cortava um pedaço do próprio hábito (cf. 2Cel 90) ou dava como esmola os ornamentos do altar (cf. 2Cel 67) e até mesmo o livro do Evangelho usado na liturgia (cf. 2Cel 91).
Resumindo o pensamento de Francisco sobre economia, pode-se dizer que, tendo como princípio o cuidado dos irmãos, ele realmente desenvolve um modelo econômico alternativo, baseado no trabalho, na partilha entre os irmãos e na partilha (não só do supérfluo) com os demais pobres.
3. O conceito de propriedade privada no pensamento franciscano
A tese comum defendida na Idade Média, inclusive por teólogos do porte de Santo Tomás de Aquino (4), era a da justificação da propriedade privada pela lei natural. Na linha aristotélica, Tomás de Aquino defende que odominium (o termo indica poder de uns sobre os outros e propriedade sobre as coisas) remonta ao estado original, não é consequência do pecado.
A escola franciscana, possivelmente influenciada por uma compreensão evangélica da pobreza (Cristo quis ser e fez-se pobre), elaborou um pensamento alternativo. Teólogos franciscanos que abordaram o tema: Alexandre de Hales, Boaventura, Mateus de Aquasparta, Pedro João Olivi, Duns Scotus e Ockham. Já com Alexandre de Hales (5), passando por Boaventura (6), a formulação adquire uma clareza incontestável. Segundo Alexandre de Hales, deve-se distinguir entre status innocentiae (o estado do ser humano antes do pecado) e status naturae lapsae (estado depois do pecado). Em seu estado de inocência foi dada ao ser humano a lex naturae simpliciter; em seu estado de natureza caída, foi-lhe dada a lex positiva, esta última com a finalidade de coibir a vontade dos mais fortes de submeter e explorar os mais fracos. Deste modo, em seu estado original, havia apotestas utendi, o commune solatium rerum (provisão ou uso comum das coisas). Com o pecado, irrompem a avareza, a tendência à apropriação, a separação entre o meu e o teu, a concupiscência da posse e da acumulação. Por isso, a necessidade de uma lei positiva (lei da sociedade), que, no entanto, não deve ser absolutizada nem divinizada como se fosse o projeto eterno de Deus. Ela mostra apenas a precariedade e a fragilidade da condição em que se encontra o ser humano caído. Se ela estabelece normas para proteger a propriedade particular, é porque o ser humano perdeu o senso do uso comum das coisas, que era próprio de seu estado primeiro.
Igualmente, para Duns Scotus, o ser humano não é proprietário por natureza. Como bem comenta Todisco, “os dominia não fazem parte dostatus innocentiae, quando tudo era comum e o uso dos bens respondia somente à lógica da necessidade de cada um. O atual desenfreamento do instinto concupiscente faz parte de nossa história, não de nossa natureza… Assim, a partir do estado de comunhão de bens se passou ao estado de distinção dos dominia para propiciar uma convivência pacífica. Nem o direito natural ou ius naturae nem o divino ou ius divinum se podem tomar legitimamente como argumento a favor da propriedade, como se esta expressasse a índole originária da natureza humana” (7) .
E Guilherme de Ockham sublinha que, depois do pecado, o ser humano não está em condições de gozar os bens em comum, motivo pelo qual precisa regular o poder de apropriar-se das coisas, de acordo com a condição humana atual (8).
4. O modelo econômico dos Montepios
A crescente monetarização acontecida já na época de São Francisco despertou muitos homens ricos à prática da usura. Devido aos seus lucros exorbitantes e à espoliação dos pobres causada pelos juros altos dos usurários, esta prática, comparada em gravidade à simonia e à avareza, era severamente condenada pela teologia moral. Santo Antônio de Lisboa, por exemplo, tornou-se um grande pregador contra a usura, pelo fato de esta prática miserar muitas famílias já pobres. Com comparações contundentes, ele clamava:
Um povo maldito de usurários, forte e inumerável, cresceu sobre a terra. Os seus dentes são como os dentes de leão… seus dentes cheiram mal, por motivo de existir sempre na sua boca o estrume da pecúnia e o esterco da usura. Os seus queixais são como leõezinhos, porque arrebatam, mastigam e devoram os bens dos pobres, dos órfãos e das viúvas” (9).
Com o passar do tempo, os frades menores, compreendendo que o uso do dinheiro fazia parte da vida cotidiana do povo, perceberam que não bastava anatematizar o dinheiro. A usura ainda dizimava muitas vidas e dignidades. Participando das angústias dos cidadãos, especialmente dos mais pobres, e conscientes da força do capital que movia a sociedade – sem deixar de arruinar muitas vidas –, os frades começaram a refletir também sobre esta realidade de maneira realista, chegando a elaborar um pensamento sobre economia. Exemplos disso são os tratados de Pedro João Olivi, intituladosTractatus de emptione et venditione e Tractatus de contractibus usurariis et de restitutionibus. Este teólogo trilha o caminho do preço justo dos bens produzidos, levando em conta não apenas o trabalho do artesão, mas também as dificuldades e trabalho do mercador, as situações de escassez e de abundância, etc., que acabam incidindo legitimamente na valorização da mercadoria. Posteriormente, Bernardino de Sena estabelecerá os elementos a serem levados em conta no preço dos bens produzidos: o valor natural da coisa produzida (realis bonitas naturae) e a utilidade (utilitas rei, pois o uso acrescenta valor à coisa); acrescentem-se a estes a virtuositas (qualidade), araritas (escassez) e a complacibilitas (a satisfação que o produto dá ao que o compra) (10).
A contribuição franciscana em assuntos de economia, porém, não ficou no nível do pensamento. A iniciativa dos montepios foi a maneira concreta encontrada para levar a sociedade ao bom uso do dinheiro, isto é, a produzir bens de consumo sem produzir miséria. Bernardino de Sena (1380-1444) e Bernardino de Feltre (1439-1494), entre muitos outros pregadores, foram os incentivadores deste modelo de economia. O sistema consistia em levar os ricos a substituírem as esmolas por empréstimo a juros baixos para os que não tinham um capital e eram capazes de produzir bens de consumo. Deste modo, o pobre se sentiria valorizado em sua dignidade de poder produzir, de colaborar com a construção da vida social. Uma frase de Bernardino de Feltre, que mostra a natureza dos montepios, reza assim:
Não retenhas o supérfluo, que o supérfluo rompe a cesta… quando és rico e tens a barriga cheia e o pobre te pede emprestado e tu podes ajudar, se não o ajudas, pecas mortalmente. Portanto, se estás obrigado a dar esmola e ser generoso, quanto mais estás obrigado a dar ajuda daquilo que receberás com juro? (11).
O primeiro montepio foi fundado em 1462, em Perúgia, mas a iniciativa estendeu-se com muita rapidez pelas cidades da Itália e da Europa.
Conclusão
Quando os frades menores se põem a pensar a economia e a criar modelos econômicos alternativos, onde fica a pobreza? Estariam eles distanciando-se do carisma do fundador, afastando-se da pobreza radical? Não subsistiria, no fundo, a contradição à proposta original de Francisco?
Pelo contrário, vemos aí exatamente a superação da suposta contradição e uma até mesmo apologia da pobreza. Aos que consideravam a pobreza uma violação dos direitos fundamentais da natureza humana (entre estes o chamado direito natural à posse), a renúncia à posse dos bens mostra que a pobreza radical, pensada neste contexto, não vai contra a natureza humana, mas contra a natureza atual (caída) que se tornou egoísta. A pobreza radical (renúncia a qualquer domínio) aponta, portanto, para o status innocentiae, não viola absolutamente nenhum direito natural (lex naturae), como pretendiam os que se inspiravam numa concepção naturalista pagã, mas restaura a condição primeira. Esta visão dá ao indivíduo o pleno direito (liberdade) a renunciar a todos os direitos, e nisso consiste a radicalidade máxima da pobreza.
De outro lado, os frades não propõem o dinheiro como objeto de culto e de cobiça. Sua preocupação principal é livrar os pobres de uma pobreza que indignifica e envergonha o ser humano: a miséria. E a proposta subjacente ao modelo econômico dos montepios não era a de enriquecer os pobres, mas de permitir que eles, mesmo pobres, continuassem humanos, co-participantes da vida e da construção da cidade dos homens.
1 Os hagiógrafos são ainda mais radicais, ao atribuírem a Francisco a comparação do dinheiro com o esterco; cf. 2Cel 65,3; 66,2; CA 27,3; LTC 45,4. 2 Quem recentemente fez uma abordagem da pobreza do ponto de vista da economia foi D. Flood em seu livro Frei Francisco e o movimento franciscano, Vozes-Cefepal, Petrópolis, 1986, onde ele fala da “base econômica” (p. 42, 54, 55, 58), de “sistema econômico” (p. 49), de “organização econômica” (p. 67, 71) da vida dos frades, caracterizando-a como “economia fraterna” (p. 71), apontando, inclusive, a esmola não por razões de pobreza, mas por razões simplesmente econômicas (p. 55-56). 3 Basílio Magno, Homilia in Lc 12,16, em PG 31, c. 1752. 4 STh., I, q. 96, a. 4. 5 SH, II, q. 3, c. 2. 6 Boaventura, II Sent., d. 44, q. 2, a. 2. 7 Todisco O., “Ética e Economia”, em Merino J.A.; Fresneda F.M. (org.),Manual de Filosofia Franciscana, Petrópolis, Vozes-FFB, 2006, 261-332, p. 267; cf. Duns Scotus, Ordinatio IV, d. 15, q. 2, n. 5; sobre a questão da propriedade em Duns Scotus, cf. Bottin F., “G.D. Scoto sull’origine della proprietà”, em Rivista di Storia della Filosofia 52 (1997) 47-59. 8 Cf. Todisco O., o. c. 267. 9 Sermão da Sexagésima. 10 Bernardino de Sena, II, Sermo XXX, c. 1; obra citada por Todisco O., o. c. 324. 11 Citado por Todisco O., o. c. 327.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Dom Jaime, novo arcebispo de Porto Alegre



Porto Alegre (RS) – A capital gaúcha viveu um dia histórico nesta sexta-fera, 15 de novembro. Tomou posse na Arquidiocese de Porto Alegre seu sétimo arcebispo. Nascido em Gaspar (SC), Dom Jaime Spengler foi nomeado para a função no dia 18 de setembro de 2013 pelo Papa Francisco. Desde 5 de fevereiro de 2011, ele era bispo auxiliar da Arquidiocese.
A abertura da solenidade ocorreu no Átrio na Catedral Metropolitana, com a execução do Hino Nacional e do Hino Pontifício pela Banda da Brigada Militar. Dom Jaime foi acolhido no Colégio de Consultores pelo arcebispo emérito Dom Dadeus Grings e pelo episcopado gaúcho. O ato de posse contou com a presença de quatro arcebispos, 29 bispos, centenas de sacerdotes, pelo Prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, secretários de Estado, deputados, vereadores, autoridades militares, membros do Grupo Inter-religioso de Porto Alegre e dirigentes de organizações da sociedade gaúcha. O Governador Tarso Genro foi representado pelo Secretário de Justiça e Direitos Humanos, Fabiano Pereira.
Muitas delegações dos Vicariatos (regiões geográficas) da Arquidiocese ocuparam todos os espaços da Catedral Metropolitana. Também participaram da solene liturgia uma comitiva de mais de 120 pessoas da cidade de Gaspar e um grupo de cerca de 50 pessoas da Paróquia Senhor Bom Jesus da cidade de Curitiba, onde Dom Jaime trabalhou por vários anos. A curitibana Claudionora Conceição Santos disse que veio para celebrar com Dom Jaime essa nova missão. “Ele é uma pessoa maravilhosa. Sua simplicidade, humildade e proximidade encantam a todos”. O irmão do arcebispo, Gerson Spengler, que veio de Gaspar (SC) acompanhado das irmãs Lúcia e Leda, para acompanhar esse momento singular da vida de Dom Jaime, afirmou que “a família está num momento de profunda alegria. “É uma satisfação indescritível. Queremos que ele tenha força para esse novo desafio”. A mãe de Dom Jaime, Lea Maria Spengler, estava emocionada durante a cerimônia. “É muito bonito ver um filho chegar a essa condição. Estou muito feliz pela coragem do Jaime”.
Como primeiro momento do ato de posse, o Mons. Piergiorgio Bertoldi leu a Bula de Nomeação, na qual o Papa Francisco manifesta que Nossa Senhora Aparecida acompanhe o novo arcebispo e seja sua proteção. O Santo Padre desejou também que “os dons do Espírito Santo sempre estejam contigo”. Eram 9h54 quando Dom Jaime Spengler recebeu o báculo, símbolo da missão de conduzir o povo de Deus na Arquidiocese. Em seguida, foi levado por Dom Dadeus Grings até a Cátedra, lugar de onde deve orientar o povo.
O arcebispo emérito, Dom Dadeus Grings, destacou: “Não é o senhor que toma posse da Arquidiocese. É a arquidiocese que toma posse do Senhor”.
Em sua primeira mensagem como Arcebispo, Dom Jaime expressou: “O senhor vos dê a paz”. Ele lembrou de todos aqueles que marcaram a história da vida da Arquidiocese, religiosos que dedicaram suas vidas no serviço ao povo. “Queremos cooperar para que a obra da evangelização iniciada por nossos predecessores possa avançar no tempo e produzir muitos frutos”. Lembrando o diálogo de Jesus com o Apóstolo Pedro e a profissão da infidelidade, Dom Jaime disse que Jesus vai ao encontro de todos. “A misericórdia e a ternura do Senhor recuperam as possibilidades de uma vida nova. A partir da própria fraqueza é possível compreender a experiência de amor ainda maior”. O novo arcebispo afirmou que o amor é mais forte que a morte. “O Ser humano vale o que é diante de Deus e nada mais. Somente o amor de Deus pode ser nossa sustentação. Por isso, na misericórdia, na acolhida e na proximidade está o sentido da atividade que estamos assumindo”.
Dirigiu uma palavra especial aos padres. “Deus conta conosco, devemos trabalhar sem reserva, assumindo a cruz, sem negar os sofrimentos e a dor do mundo. Nossa vida, nossa palavra e nosso testemunho devem anunciar o amor crucificado e ressuscitado. Somos convocados a conduzir o rebanho de Jesus. Nosso serviço é dar o exemplo, manter a unidade, animar o povo e promover a intimidade com o grande pastor de nossas almas. Por amor é que devemos desempenhar essa missão a nós confiada”.
Um dos momentos emocionantes da celebração ocorreu após a comunhão. A Orquestra Jovem do Rio Grande do Sul, formada por adolescentes da rede pública de ensino executou o Hino Panis Angelicus. Em razão da origem franciscana do novo arcebispo, antes do final da solene cerimônia foi feita a entrada oficial da imagem de São Francisco de Assis trazida ao Rio Grande do Sul, há 250 anos, pelos imigrantes açorianos, primeiros moradores de Porto Alegre.
  Ao saudar o novo arcebispo, o Vigário Episcopal da Cultura, Mons. Urbano Zilles afirmou que a Arquidiocese já conhece a simplicidade franciscana, o dinamismo e a dedicação de Dom Jaime. “Obrigado por aceitar a missão que lhe foi confiada. As mudanças provocam expectativa. Entre nós reina a expectativa de uma renovação, uma Igreja que olhe para além dos templos, das planilhas contábeis e das necessárias rotinas democrática. Veja as pessoas!”. Zilles manifestou o desejo de que a Igreja seja presença junto a todos, especialmente junto aos pobres, anunciando a Boa Nova com uma mensagem de fé, de amor e de esperança. Ele disse que do governo de Dom Jaime o povo espera muito. “Queremos uma Igreja alegre, como uma grande família, na qual todos valorizem a experiência dos mais velhos, as crianças e aos jovens. Queremos uma Igreja de diálogo entre irmãos de todas as crenças. Pedimos a Deus que o ilumine no seu trabalho. Tenha força e alegria na nova missão”.
Elton Bozzetto, do site da Arquidiocese de Porto Alegre
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/?p=50055#sthash.zlxWMCof.dpuf