A(s) Quaresma(s) de São Francisco
No entanto, nossa tentativa de reflexão não deverá girar em torno das
questões litúrgicas que envolvem este período da caminhada da Igreja.
Nossa questão está relacionada com o modo todo próprio com que o Serafim
de Assis viveu este mesmo período, de modo especial, a via penitencial
proposta pelo período quaresmal.
Francisco é mestre na arte da penitência. Antes de qualquer coisa, é
preciso salientar que a penitência para Francisco, e para a
espiritualidade franciscana desenvolvida posteriormente, não se refere
apenas às práticas de mortificação e disciplina do corpo. “Para ele,
penitência é a conversão do homem de uma vida voltada para o próprio eu a
uma existência que está inteiramente sob o domínio de Deus[1]“.
A partir deste modo de percepção da penitência é que podemos
compreender a relação de Francisco com a(s) quaresma(s) e o trabalho
árduo que fazia em si mesmo durante estes períodos. A antiga prática
quaresmal, verificada em diversas narrativas do antigo testamento e
realizada pelo próprio Jesus Cristo, como caminho de fortalecimento
espiritual, tornaram-se parte necessária da vida do “Pobrezinho de
Assis”.
O leitor mais atento já percebeu que, quando tratamos da prática
penitencial de Francisco, estamos usando o termo no plural. Sim, de
fato, para Francisco, uma quaresma apenas não era o suficiente.
Francisco vivia em “períodos quaresmais”, ao ponto de em sua Regra
Bulada[2], orientar aos frades a realizarem o Jejum em três momentos especiais do ano litúrgico de então: “Jejuem
desde a festa de Todos os Santos até a Natividade do Senhor. Na Santa
Quaresma, porém, que começa com a Epifania e se estende por quarenta
dias consecutivos, consagrada pelo Senhor com o seu santo jejum, os que
voluntariamente jejuarem, sejam abençoados pelo Senhor. E os que não
quiserem jejuar, não sejam obrigados. Mas, na outra Quaresma, jejuem até
a Ressurreição do Senhor.”[3]
Como foi dito acima, Francisco tornou-se um verdadeiro mestre da
penitência. Por isso desejava realizar vários momentos de quaresma,
sempre com o intuito de converter-se de seu próprio eu para uma
existência que estivesse sob o domínio divino. A quaresma não era apenas
o momento da prática externa, mas o desejo de tornar-se ‘um’ com seu
Senhor.
É justamente em um destes períodos quaresmais que o Seráfico Pai
recebe a confirmação, da parte de Deus, de que todo o esforço encetado
até então havia sido válido. O desejo de celebrar a quaresma de São
Miguel no Monte Alverne, juntamente com Frei Masseo, Frei Ângelo e Frei
Leão, é coroado com a recepção dos estigmas do Crucificado.
Pela sua mortificação externa e, sobretudo, pelo desejo constante de
conversão, Francisco recebe de Cristo a mais alta comenda. Recebe as
dores e as marcas do Crucificado e recebe também o amor que Ele havia
sentido, a fim de que pudesse suportar tais sofrimentos.
Assim, Francisco mais uma vez nos ensina. Ensina, sobretudo, qual
deve ser a nossa postura diante dos exercícios quaresmais que se
aproximam. Jejum, oração e esmola não devem ser apenas a realização
exterior de atos pretensamente piedosos. Devem ser antes de tudo, a
prática de um apaixonado por Jesus Cristo, que de tanto amor deseja
viver uma existência voltada para Ele, absorvida por Ele. Quem sabe, se a
Graça divina assim o permitir, sejamos também nós visitados pelo
Senhor.
A todos uma Santa e abençoada Quaresma! Que o Cristo Senhor, por
intercessão do Seráfico Pai São Francisco de Assis, ajude-nos a sermos
mais próximos d’Ele através de nossos exercícios quaresmais. Em Francisco e Clara,
Frei Joveci Filho, OFMConv.Fonte: http://www.taufrancisco.com.br/francisco-e-as-quaresmas-uma-santa-licao/
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